OQSPSDUH? 2016
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Uma exposição em homenagem a Roberto N. Cardoso
O apartamento é completamente tomado por objetos e fotografias que aludem tanto à vida no rancho localizado na Serra do Intendente quanto ao seu antigo dono, homem homenageado pela exposição, misturando arte e memória, imaginação e identidade. O amarelo é cor recorrente, assim como uma infinidade de utensílios que parecem ter sido acumulados ao longo dos anos e reempregados das mais variadas formas.
Em O que se Pode Saber de um Homem, a familiaridade repentina com um alguém desconhecido induz no visitante a ilusão de sua presença. Não apenas isso, produz nele memórias de um lugar onde, talvez, nunca tenha estado.
Em O que se Pode Saber de um Homem, a familiaridade repentina com um alguém desconhecido induz no visitante a ilusão de sua presença. Não apenas isso, produz nele memórias de um lugar onde, talvez, nunca tenha estado.
Entre Capricórnio e Câncer o mar 2015
Instalação 250 x 250 cm — Embalagem de Toddy, lona, mangueira, saco de laranja, bacia, esfera de tecido, bolsa de plástico, livro, pedras, ganchos, suporte metálico, arame, mapa emoldurado e relevo banhado a ouro.
O banheiro do apartamento recebe a obra Venezia (Belo Horizonte, 2015). Uma toalha rendada ocupa o espaço como teias de aranha ocupariam, estabelecendo conexões fluidas entre as quatro paredes, seus móveis e os objetos ali colocados em vigília: um emaranhado de longas linhas e pesos pontuais
Venezia 2015
Objeto – 384 x 69 x 10 cm - Toalha, crochê e pedras.
A série Garrado (Calçada, 2016) ocupa o corredor. Nela, moradores da comunidade mostram seus corpos integrados ao lugar: um homem preso a uma porta pela cintura, outro homem com o braço enterrado entre sacos de fubá, alguém sob uma pilha de roupas, uma mulher com a perna imersa em uma lata de leite.
Garrado 2016
Fotografia – 29 x 41 cm (quatro imagens)
Ao contrário, nas fotografias da série Nonchalant (Calçada, 2016), também no corredor, o olhar atento encontra duas pedras que, por se descolarem do rochedo ao fundo, pontuam estranhamente os montes cobertos de vegetação.
Nonchalant 2016
Fotografia – 29 x 41 cm (três imagens)
Eu pedi, ele disse: “Cresça e apareça’’. Aí eu fiz a janela 2016
Desenho - 16 x 11 cm – nanquim e lápis de cor sobre papel
Luva de correr 2015
Instalação – 250 x 300 cm – mangueira de água, tubo de ensaio, objetos diversos, quartzo amarelo, caixa de madeira, medicamentos, travesseiro, corda e pedras, livro e genuflexório.
A impressão que existe é como se o mundo não coubesse nele.
Como se a cada passo, o homem atravessasse uma dimensão.
Um caminhar que carregava um objetivo de conhecer e explorar o hoje, o tempo, o espaço.
E que transitava junto a um par de olhos vivos, feito árvores – longas, abertas e esparsas.
Como aqueles olhos encarnavam...
As pegadas agora viraram lembranças:
Sua cidade não aparece mais nos mapas.
Torcia pelo Palmeiras. Viu a Academia jogar.
Em duas se formou. Geologia e Biologia.
Plantou árvore. Escreveu livro.
Teve filhas. Quebrou pedra.
Morou nos Estados Unidos. Adorou a geléia. Fazia as suas.
Estudou uma centenas de assuntos. Os colocou em prática.
Cultivou inúmeras plantas. Alguns livros pra cada.
Bicho de todo tipo. Mais de dois por cada.
Fez negócio. Trocou. Deu.
Era generoso. Desapegado como poucos.
Desgarrado também. Único, mas nunca vi professorar.
Terras teve. Hectares e m2.
O mato. Incontáveis vezes, cama. Como no derradeiro dia.
A serra de minas, tão amada gerais.
Adorava conversa boa. Se ruim fosse, desfazia-se sem delongas:
- Vou dormir, porque as visitas estão com sono.
De pintor – letrista a designer - veterinário.
“Uma breve história sobre quase tudo”
Viagens. P.Q.P., fez demais.
Sentia falta do cinema.
Fez na Calçada . A bateria.
Roubada. P&B e pesava demais.
Confiava no desenho. Designer foda!
Teria sido, se não fosse. Vale a pena ver!
Admirava o plástico e o ouro. Sabia das coisas.
Viciou na geladeira. Gostava de gastronomia em forma de memória.
Cavalheiro com dois parafusos na canela. Usava quando precisava.
Descobriu a arte. Foi descoberto pelos artistas.
Gerou paixões. Gostava de física.
As mulheres. Amadas. As amáveis.
A teoria do buraco negro. Admirou já na primeira vez.
Química e alquimia. Manipulava sem medo.
Do gelo ao vapor em 11 minutos. Potencia Máxima.
Considerava as máquinas. O carro foi companheiro.
O que o tempo amarelava. Arquivava nas pastas azuis.
Mas antes disso. Criança. Grande que era.
Escolheu. Grifou. Fez nota.
Imagino o primeiro lápis a sair da caixa.
Coloriu até cerca. Tem muito bobo nesse mundo.
Refinado era, mas gostava da tampa do Toddy.
Enxergava graça nos detalhes.
Poucas vezes vi confessar. Mas teve uma vez.
Por isso, só por isso – posso dizer
Não teve jeito, as lentes do óculos...
A única coisa que dele eu sei, é que gostava,
do amar, (elo).